Doações de 2012
Jorge Molder
da série T.V., 1995-1996
Instalação
Mini-trampolim em têxtil sintético bordado a lantejoulas
44,5 x 115 x 115 cm
João Pedro Vale
We all fell better in the dark, 2000
Este aparelho integrava o ginásio imaginário que constituiu a sua primeira exposição individual. Partindo de um objecto lúdico, desportivo, associado a uma cultura do corpo e a uma latente masculinidade, o artista insere uma derivação ao universo feminino, ao bordar a cetim e lantejoulas o refrão de uma canção pop dos Pet Shop Boys, “We all feel better in the dark “ (todos nos sentimos melhor no escuro). Desta forma, o artista desmonta a normalidade dos arquétipos masculino/feminino, inserindo simbologias de universos ambíguos, logo cultural e socialmente constrangedores, assim como evoca a marginalidade e discriminação sexual das minorias gay. O refrão da canção, quando transportado para o objecto, armadilha-o de um estereótipo de mistério e sedução deslocado do seu uso, em que a ironia é também uma estratégia de combate à estranheza da diferença. (Emília Tavares)
Augusto Alves da Silva
da série Shelter, 1999
Dimensões variáveis
Edição 1/5
António Olaio
This widow is blocking my windows, 2011
A escolha do ponto de partida para a minha exposição no MNAC - Museu do Chiado foi óbvia. Óbvia no sentido literal porque, para qualquer visitante, está logo ali, à vista.
“A Viúva” de Teixeira Lopes apresenta-se, assim, numa privacidade tornada pública pelo simples facto da sua natureza ser a de se expor. Entre a sua condição de viúva e a de escultura, não sabemos qual prevalece nem sequer se é uma viúva que é uma escultura ou uma escultura que é viúva.
Desfruta da narratividade da arte mais difundida no séc. XIX, anacrónica e desprezível para os arautos do espírito moderno. Mas, apesar de tudo, mesmo nesta condição, e talvez sobretudo por ela, encontramos múltiplas possibilidades de jogos conceptuais. Marcel Duchamp lamentava a perda da narratividade no caminho que o modernismo estaria a tomar. Ele tinha a credibilidade de ser um dos seus pioneiros. E ao mesmo tempo, prazenteiramente, um dos seus detractores.
Esta “Viúva” de Teixeira Lopes não é propriamente aquela janela sensualmente coberta de cabedal preto que Duchamp fez em 1920. Mas não deixa de ser, na sua eterna juventude, uma “Fresh widow”.
Na relação entre widows e janelas ou entre viúvas e windows, encontrei naquela escultura, ali, no átrio do MNAC - Museu do Chiado, uma exposição praticamente desenhada. Totalmente até, se nos referirmos ao seu alcance conceptual.
Só faltava fazê-la.
“This widow is blocking my windows” é, assim, uma exposição que nasce da própria condição daquela escultura. E, na relação com ela, posso dizer que:
Obsessivamente, pela sua incontornável dimensão erótica, ocupa-me totalmente (ou ocupa totalmente o meu campo de visão) o campo de visão.
Tapando-me as janelas, só me deixa um espaço interior (introspecção, ou a fatalidade de ter de me conformar com um interior como meu único espaço exterior).
Bloqueando-me o meu Windows, queixo-me deste século XIX que me bloqueia o computador. Ou talvez da permanência de cada século passado que insiste em ficar, que não reconhece qualquer rigor na valoração simbólica de um mero instante, da passagem de um século para outro.
As telas redondas assumem uma condição ocular, consequência conceptual de ter o cérebro nos olhos e a canção do vídeo acrescenta outros sentidos:
Your darkness is all I can see / I’m trapped in 19th Outside is out of my sight/... century / Don’t know if it’s morning or night
(António Olaio)